8 de Março – A Rosa cinza.

Abri a janela e me sentei para começar a escrever. Enquanto fiquei um tempo olhando para uma tela em branco com a mente fervilhante antes de começar, alguém tentou chamar minha atenção: o famoso fiu-fiu!

Eu estava dentro do meu quarto, escrevendo em silêncio, e esse som invadiu o apartamento. O vizinho do bloco ao lado achou que estava tudo bem mexer comigo tarde da noite, afinal, somos vizinhos, não tem nada demais.

Nossa, que vaca! Reclamando por alguém tê-la admirado, não é mesmo?

Pera! Mas ninguém me deu essa escolha! Eu estava em casa, de jeans, camiseta rasgada e pés sujos na cama.

Percebe? A gente não tem escolha. Hoje, com ou sem mimimi, não é um dia de “parabenizar por ser mulher”. É dia de lembrar a sociedade que somos pessoas. Dá pra acreditar que isso ainda seja necessário?

Diariamente nos esquecemos das formas pelas quais a mulher é vista e tratada em nossa sociedade, embora reafirmem corriqueiramente o suposto “lugar” da mulher, carregado de estereótipos e rótulos.

“Se ela tem mais livros do que sapatos, case-se com ela.”


‘Toda mulher é feminista até o garçom trazer a conta.”


“Com essa roupa queria o quê?


E com todo esse machismo que se esconde atrás do humor, minha resposta seria:

“Falou tanta merda, senti pena.”




Meu exemplo não pareceu invasivo pra você? Mas é a partir de pequenos gestos -julgados normais- que surgem tantos casos de violência doméstica, assédio no trabalho, aborto isso ou aquilo, para chegar em um dia como hoje e vermos tantas pessoas distribuindo rosas.

Para nós, hoje é um dia cinza, que tentam disfarçar no tom das rosas, mas que volta a escurecer amanhã encoberto de nuvens novamente. Não adianta um dia como esse se amanhã quiserem enquadrar todas as mulheres em padrões de corpos, de cabelos, de comportamento e até profissão.

A gente sabe que a desconstrução social é um caminho longo que precisa ser andado diariamente.
Então chama aquele tio que faz a piada no almoço de família de canto pra conversar, avisa o amiguinho que ele não pode tratar a irmã desse jeito, faz o filho lavar a louça também. Parece coisa pouca, não é mesmo? E é! São coisas tão pequenas que estão alimentando toda uma cultura machista. Cultura que mata! Aqui, a gente não comemora, não enquanto o Brasil estiver entre os primeiros países no ranking com maior número de homicídios femininos.

A gente só quer andar livremente e sem medo por aí. Mas quando a gente assume uma postura diferente desses padrões impostos, somos chamadas de tantos nomes que julgam pejorativos.

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